Irmã Elvira Maria Berbereia
Alexandra - Como descreve a
sua infância?
Irmã Elvira - Feliz, despreocupada, com um bom
ambiente familiar, com uma boa vizinhança. Gostava de ir a tudo o que, no tempo
se celebrava na igreja: mês de Maria, mês das almas, catequese que comecei a
frequentar desde os cinco anos. As minhas vizinhas, as “Tesoureiras” como
dizíamos, foram as minhas primeiras catequistas. No entanto, foi com os meus
pais que aprendi a rezar e também com o meu pai aprendi a cartilha de João de
Barros antes de ir para a escola.
Gostava muito de crianças.
Brinquei muito com as outras crianças vizinhas, tive uma infância prolongada...
Na escola nunca tive dificuldades.
Gostava muito de festas e de
conviver.
Tive o necessário e, na
altura, não se via, não se desejava…
Alexandra - Quando
descobriu a sua vocação?
Irmã Elvira - É-me difícil dizer quando, porque a
vocação de cada um, penso eu, que em geral, vai-se descobrindo. No entanto
posso dizer que em criança quando a Ir. Calmarinda Rosalina veio ao Raminho,
donde era natural, foi à catequese e falou com muita convicção e ardor sobre as
missões. Nesse dia, disse à minha mãe que queria ser missionária. Nunca mais
pensei em nada.
Namorar e casar foi era o projeto comum.
Namorei, pelos 18 anos, quando estudava no colégio de Santo António, no Faial,
dirigido pelas Irmãs da minha Congregação, comecei a por a questão da vida como
vocação. O testemunho das Irmãs, que nunca nos falavam em sermos freiras, e o
Senhor, que chama quem, e quando quer, levou-me a decidir, tinha então 19 anos.
Fiz o 5º ano e embarquei nesta aventura que tinha os seus riscos, mas a força
da juventude e o toque de Deus faz-nos perder o medo.
Alexandra – Por onde andou,
enquanto religiosa?
Irmã Elvira - Depois de 3 anos de formação inicial, em
Santo Tirso, professei e frequentei durante mais 2 anos um curso, intercongregacional,
de Estudos para Religiosas juniores (de votos só temporários).
Nessa altura, comecei a fazer
cadeiras do 6ºe 7º anos. Depois comecei a trabalhar como professora do “ciclo
preparatório” dando ciências e matemática, apenas com autorização provisória de
lecionação. A trabalhar e a estudar, acabei o 7º ano e fiz a licenciatura em
Geografia na Universidade do Porto.
Lecionei em Ermesinde, Gaia,
Amarante, Lamego e Leiria, sempre em colégios particulares e durante 19 anos.
Alexandra - Uma história
que a marcou?
Irmã Elvira - Quando escrevi aos meus pais, do
colégio, a pedir-lhes para ir para a vida religiosa, a minha mãe, respondeu-me
e guardo uma expressão dela que me tem ajudado em certas ocasiões: “pedi 11
anos (os meus pais estiveram 11 anos sem filhos) a Nossa Senhora que me desse
uma filha, agora pede-ma devo dá-la”. Sei que sofreram com a minha decisão mas
confiavam em Deus. E Deus não se deixa vencer em generosidade. Quando começaram
a precisar de mim, sem eu nunca pensar, fui enviada, precisamente para a
Terceira, acompanhando-os assim, muito de perto até ao fim da sua vida nesta
terra.
Alexandra - Desde quando
organiza os esquemas e qual a sua opinião em relação à participação dos Jovens?
Irmã Elvira - Foi-me pedido, pela Superiora de então,
para ajudar na realização dos esquemas da Mensagem de Fátima em vez de uma Irmã
que tinha sido transferida para outra ilha. Já lá vão 27 anos (já deves ir para
a reforma, dirão e com razão…).
Ao longo destes anos, noto uma
grande diferença e esta faz-se sentir em espaços de tempo cada vez mais curtos.
São as mudanças rápidas e profundas do nosso tempo. Os jovens continuam a
participar com interesse, o número de participantes não tem diminuído mas, a
maturidade que capacita uma interiorização e uma participação mais ativa e com
projeção e continuidade, vai sendo menor.
Não admira se, hoje, a juventude vai até aos 30 ou 40 anos para alguns…!
Alexandra - Como é que a
Madre Maria Clara influenciou a sua vida religiosa?
Irmã Elvira - Com o Concílio do Vaticano II fomos
chamados a ir às fontes e desde aí, o conhecimento dos nossos Fundadores foi
sendo uma descoberta que me levou a “perceber” melhor o Carisma a que o Senhor
me chamou a viver, nesta família religiosa das Irmãs franciscanas Hospitaleiras
da Imaculada Conceição. A vida da Mãe Clara, a sua fé e caridade, a sua coragem
e fortaleza, perante tantas e tantas dificuldades, o seu despojamento e
pobreza, entrega, simplicidade e alegria são, para mim, desafios constantes.
Alexandra - Como vê o
futuro dos jovens de hoje?
Irmã Elvira - Os jovens são sempre “os jovens”, ontem
e hoje. Vejo-me às vezes muito retratada neles, em alguns traços, inquietação,
busca, rebeldia perante o sempre se fez assim…O futuro dos nossos jovens está a
ser delineado por nós adultos, que lhes cortamos as asas, com a superficialidade,
relativismo e consumismo que marcou estas últimas décadas e que fizeram com que
as famílias, (ajudadas pelos meios de comunicação, cada vez más rápidos e
atraentes) não só se afastassem de Deus como, em consequência, se aliassem da
necessidade de criar um ambiente propício para as crianças e jovens crescerem
com valores claros. Os valores que norteiam a vida e a Fé, ou se bebem com o
leite materno, ou então será muito mais difícil ajudar as novas gerações a
acertar o passo para uma liberdade, na verdade e na responsabilidade.
Os jovens de hoje, como os do
passado, são capazes de Deus, como qualquer ser humano, e capazes de arriscar a
vida por uma causa. Espero e desejo que essa causa seja a adesão a Cristo e ao
seu chamamento a segui-lo, por onde quer que lhes indique. Isto implicará uma
resposta que leva consigo a marca da aventura, e também a do risco.
Deus pede que os jovens se
liguem a Ele sem porem questões acerca de pormenores e das consequências da
decisão, sem perguntas sobre o futuro. Ele quer que cada jovem crente, como
Maria, responda “SIM”.
Por aqui passa o caminho para
a felicidade que é construção sempre inacabada, não há “nenhum pronto
a…”, para a comprar.
Alexandra - Neste Ano da
Fé, que mensagem gostaria de Deixar?
Irmã Elvira - Há “necessidade de redescobrir o caminho
da fé para fazer brilhar, com evidência, sempre maior, a alegria e o renovado
entusiasmo do encontro com Cristo” (Bento XVI, Porta fide 2).
A Fé acreditada é a fé rezada.
É urgente que, pessoalmente e em grupos, rezemos a nossa fé. O nosso coração
tem um segredo, um desejo de felicidade que é a energia da vida com sentido. O
Senhor, ainda que saiba deste segredo do nosso coração, nunca arromba a sua
porta, nunca viola o nosso espaço. Deus é um pedinte, passa à porta e bate…
Que posso deixar a quem ler
estes alinhavos?
“Não tenhais medo!” (Beato
João Paulo II) “Um olhar providencial de Deus, vela por nós” (Beata Maria
Clara).
Há um sentido!
Há um centro! Há uma força!
Há
uma presença!
Há uma meta!
Há
uma vitória! Há um Deus Trino e Uno!
Há
o AMOR!
Alexandra Lourenço